quarta-feira, dezembro 08, 2010

Semana Noel Rosa: a biografia proibida

O jornalista João Máximo avisa: quem deu a sorte de comprar um exemplar de “Noel Rosa: uma Biografia”, o volume monumental que ele e Carlos Didier escreveram sobre Noel, é bom não emprestar a ninguém, porque periga nunca mais vê-lo na frente.

Impedido de circular por um entrave com os herdeiros do biografado – assim como já havia ocorrido com a biografia de Garrincha escrita por Ruy Castro e com o livro de Paulo Cezar Araujo sobre Roberto Carlos, proibido pelo próprio – o livro é um documento indispensável para se conhecer a obra do poeta da Vila. Infelizmente, está virando item de colecionador.

E, assim, o Brasil continua nas trevas. Enquanto herdeiros puderem impedir a livre circulação de idéias, o público perde grandes chances de saber mais sobre seus ídolos.

Por e-mail, João Máximo respondeu a algumas perguntas sobre Noel Rosa. Aproveite:


- Quais as maiores qualidade de Noel Rosa como músico e letrista?

- Como músico, ter abraçado, conscientemente, o tipo de samba que os compositores do Estácio vinham fazendo desde a década de 20. É o samba do qual descendem os melhores sambistas de hoje, Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Wilson Moreira, Nei Lopes. Um samba diferente, em estrutura rítmica e em invenção harmônica, daquele que os baianos e seus descendentes faziam na Cidade Nova. Noel rosa foi o único branco, de classe média, a se em parceirar com aquelas sambistas, os "de morro", nos anos de 1929 a 1933. O que enriqueceu bem mais o seu estilo. Quanto à letra, reinventou a lírica da nossa música popular. Cronista, crítico, irreverente, filosófico (mas não filósofo), escreveu sobre os personagens e os episódios do dia a dia, do povo, do carioca como símbolo do Brasil.


- As letras de Noel têm um humor muito peculiar. Você vê paralelos entre ele e outros compositores da época, ou esse humor era uma coisa dele próprio?
- Acho que Lamartine Babo também tinha um fino humor carioca. Era, porém, mais lírico, mais romântico, mesmo em suas graças. Noel era um pessimista

- se você tivesse de indicar cinco músicas para alguém que não conhece a obra de Noel, quais seriam?

- “Quem Dá Mais?” (pela visão do Brasil por um jovem de 19 anos), “Conversa de Botequim” (pela perfeição do casamento de letra e música), “Não Tem Tradução” (como crítica de costumes), “Gago Apaixonado” (pela originalidade) e “Último Desejo” (pela beleza).


- Noel morreu aos 26 anos. você já imaginou o que ele teria composto se tivesse vivido, digamos, até os 60 ou 70?
- Nem calculo.


- Quem é o melhor intérprete de Noel Rosa, na sua opinião?
- Depois dele mesmo, Mario Reis e Aracy de Almeida.


- Pra finalizar: por que seu livro ele não está mais disponível?
- É assunto longo e complicado. o “Estadão” acaba de me encomendar um artigo sobre esse porquê. Mas veja bem: se já tem, segure, pois nunca mais será reeditado.

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